Ensaios de Prova de Carga em Fundações Profundas: PDA, Estático e Métodos Semi-empíricos

Introdução: A avaliação da capacidade de carga e do comportamento das estacas de fundação é fundamental para a segurança e sucesso dos projetos de construção civil. Ensaios de prova de carga em fundações profundas permitem verificar se as estacas suportam as cargas de projeto com margens adequadas de segurança, evitando rupturas ou recalques excessivos. No Brasil, as normas técnicas exigem a realização desses ensaios em muitas obras, dada sua importância intrínseca para assegurar a integridade das estruturas. A seguir, apresenta-se um comparativo técnico entre os principais métodos de prova de carga – dinâmico (PDA), estático e estimativas semi-empíricas (a partir de SPT) – bem como as normas aplicáveis, referências recentes e diretrizes práticas de aplicação.

Comparativo Técnico entre Ensaios PDA, Estático e Métodos Semi-empíricos

Princípios do Ensaio Dinâmico (PDA)

O ensaio de carregamento dinâmico – comumente referido como ensaio PDA (Pile Driving Analyzer) – consiste em aplicar um impacto controlado no topo da estaca e medir a resposta de onda de tensão para estimar sua capacidade de carga. Na prática, instalamos sensores (transdutores de deformação e acelerômetros) próximos ao topo da estaca e aplicamos golpes com um martelo (que pode ser um pilão de queda livre ou martelo hidráulico). A partir do impacto, propaga-se uma onda de compressão ao longo do fuste; os sensores registram as deformações (forças) e acelerações (velocidades) resultantes. Com base nesses dados e na teoria da propagação de onda unidimensional na estaca, o equipamento PDA calcula a resistência dinâmica mobilizada pelo solo.(Sugestão: inserir um gráfico/infográfico ilustrando a propagação da onda de tensão ao longo da estaca durante o golpe do martelo, destacando os sensores instalados.)

Imagem criada no Sora para ilustrar a propagação da onde e um exemplo disposição dos sensores.

Esse método dinâmico emprega a Equação de Onda para relacionar energia do golpe e deslocamento (“set”) da estaca com a capacidade portante do solo. Diferente da prova estática, o carregamento não é gradual, mas sim instantâneo (transiente). O ensaio é realizado em estacas isoladas, geralmente durante a cravação (para estacas pré-moldadas cravadas) ou em re-teste após a instalação. É mais apropriado para estacas pré-fabricadas de concreto ou aço, mas também pode ser utilizado em estacas moldadas in loco desde que se disponha de um sistema de impacto adequado e que se instale um cabeçote/prolongador rígido para aplicar os golpes.

O importante é que o impacto produza deslocamento suficiente para mobilizar a resistência total da estaca (atrito lateral e ponta). Como resultado, o PDA fornece rapidamente uma estimativa da capacidade de carga da estaca no campo, além de informações sobre a integridade do elemento e detectando, por exemplo, possíveis danos pelo padrão das ondas refletidas.

Esse ensaio tornou-se uma ferramenta inovadora na verificação de fundações, dando ao engenheiro um esclarecimento imediato de como a estaca está se comportando em obra, de forma prática e segura.

Diferenças entre PDA e Prova de Carga Estática

A prova de carga estática ou PCE, que é o método tradicional, consiste em aplicar cargas crescentes e controladas na estaca (usualmente via macacos hidráulicos reagindo contra pesos ou vigas de reação) e medir os deslocamentos correspondentes a cada nível de carregamento. É um ensaio lento, que pode durar horas ou dias, mas que fornece dados diretos de deslocamento sob carga, resultando na curva carga × deslocamento real da estaca. Por fornecer uma medida direta do comportamento da fundação sob condições quase estacionárias, muitos profissionais a consideram o método mais confiável para determinar a capacidade última e a resposta da estaca em serviço. Em contrapartida, a prova de carga dinâmica (PDA) aplica uma carga por impacto e infere a capacidade a partir da análise das ondas de tensão – ou seja, os resultados dependem de interpretação e correlação (por exemplo, correção dos efeitos dinâmicos).

Do ponto de vista prático, as diferenças de tempo e custo entre os métodos são marcantes. A prova estática requer montagem de estrutura de reação, equipamentos de medição de precisão e um longo período de teste, o que a torna relativamente demorada e custosa – muitas vezes é possível ensaiar apenas uma estaca por dia ou por vários dias. Já o ensaio PDA é rápido e econômico, podendo testar diversas estacas em um mesmo dia, uma vez que cada impacto leva poucos minutos e dispensa a montagem de grandes estruturas. Isso o torna especialmente atraente para controlar a qualidade em obras com grande número de estacas ou cronogramas apertados.

Em termos de precisão, ambos os métodos, quando bem executados, fornecem avaliações confiáveis da capacidade. A prova estática mede diretamente a carga de ruptura e os recalques, sendo considerada a referência para calibração. O PDA, por sua vez, oferece resultados imediatos como a capacidade estimada pelo Método de Caso em campo e, se complementado por análise mais refinada (ex.: signal matching via software CAPWAP), consegue estimar a curva carga × deslocamento “estática” de forma simulada. De fato, a combinação de medições dinâmicas com o CAPWAP permite obter a distribuição de resistências ao longo do fuste e ponta, valores de amortecimento do solo (damping) e até uma curva load-settlement simulada equivalente à de um ensaio estático.

É boa prática comparar ou calibrar os resultados do PDA com pelo menos uma prova estática nas obras de maior porte ou em solos menos convencionais, pois eventualmente diferenças podem ocorrer e requerer ajustes de parâmetros de análise.

Exemplo retirado de um Pulse do Felipe Cruz. Nesse exemplo da Figura acima é apresenta a comparação da curva carga x recalque entre os dois ensaios.

Em resumo, o PDA destaca-se pela velocidade e custo reduzido, enquanto o estático destaca-se pela riqueza de dados diretos. Muitos projetos utilizam ambos de forma complementar: o estático em poucas estacas selecionadas (para referência) e o dinâmico em um número maior de estacas (para controle estatístico e investigação de variabilidade).

Métodos Semi-empíricos (SPT) vs Ensaios de Carga

Além dos ensaios de campo, a capacidade de carga de estacas pode ser estimada na fase de projeto através de métodos semi-empíricos baseados em correlações com SPT (Standard Penetration Test). No Brasil, são clássicos os métodos propostos por Aoki e Velloso (1975) e Décourt e Quaresma (1978), que usam os valores de NSPT do solo para estimar a resistência de estacas cravadas. Essas fórmulas são valiosas como pré dimensionamento, porém carregam inerentemente simplificações e coeficientes empíricos que podem não refletir com exatidão todas as condições de campo.

Um estudo técnico recente (Ozawa et al., 2025) comparou as estimativas desses métodos com resultados de ensaios PDA em estacas pré-moldadas de concreto, revelando diferenças significativas. Nesse comparativo, o método Décourt-Quaresma apresentou, em média, valores de capacidade muito próximos aos obtidos via PDA (diferença média inferior a 1%), embora em alguns casos tenha superestimado a carga em mais de 10%. Já o método Aoki-Velloso mostrou-se mais conservador, com valores cerca de 15% menores que os do PDA em média. Essas discrepâncias evidenciam que estimativas semi-empíricas podem variar de modo considerável, podendo estar ora do lado da insegurança (superestimando a capacidade), ora do lado conservador excessivo. Portanto, seu uso seguro exige a aplicação de fatores de segurança adequados e, sempre que possível, correlação com provas de carga reais.

Em termos de aplicação, os métodos semi-empíricos baseados em SPT são empregados principalmente na fase de projeto preliminar, por serem rápidos e de baixo custo (basta ter os dados de sondagem de simples reconhecimento, padronizados pela NBR 6484). No entanto, não substituem os ensaios de campo. Eles indicam uma capacidade estimada que deve ser confirmada ou ajustada conforme a obra evolui. Na prática, é comum adotar as estimativas semi-empíricas para definir o comprimento ou diâmetro das estacas no projeto, e então realizar provas de carga estáticas e/ou dinâmicas em algumas estacas selecionadas durante a execução para verificar se a capacidade real atende ao previsto. Os resultados dos ensaios podem levar a ajustes no projeto (por exemplo, aumento de comprimento de estacas ou recalibração de parâmetros) visando garantir a segurança e a economia da solução de fundação.

CaracterísticasProva Estática (PCE)Prova Dinâmica (PDA)PIT (Ensaio de Integridade Sônica)Cálculo Semi-empírico (SPT, fórmulas)
Tipo de ResultadoCarga de ruptura e curva carga × recalque realCarga de ruptura estimada (com curva simulada via CAPWAP)Integridade estrutural da estaca (defeitos, trincas, descontinuidades)Capacidade de carga estimada por correlação
CustoAlto (estrutura de reação, tempo longo)Moderado (mobilização simples, sem reação pesada)BaixoMuito baixo
Duração do EnsaioLonga (horas/dias)Curta (minutos por estaca)Muito curta (minutos)Imediata (cálculo em gabinete)
ConfiabilidadeMuito alta (dado direto)Alta (validada com CAPWAP e normas)Alta para integridade, mas não fornece capacidadeModerada (dependente de fórmulas empíricas)
Informações AdicionaisDeslocamentos reais sob cargaDinâmica da cravação, integridade, distribuição de resistência (fuste/ponta), tensões máximasDetecta falhas internas, variações de seção, defeitos de concretagemNenhuma além da estimativa de capacidade
AbrangênciaPoucas estacas (amostragem pequena)Muitas estacas por dia (controle de grande lote)Muitas estacas rapidamente (inspeção de integridade)Todas as estacas em projeto (fase preliminar)
Normas AplicáveisNBR 12131 (2006) / NBR 16903 (2020)NBR 13208 (2007)NBR 6122 (como método de integridade complementar)NBR 6122 + métodos Aoki-Velloso, Décourt-Quaresma
Principais VantagensReferência padrão-ouro de comportamento realRapidez, custo moderado, permite testar várias estacas, fornece capacidade + integridade + curva carga × recalque simuladaDetecta falhas construtivas sem destruir a estaca, muito baratoSimples, barato e aplicável na fase de projeto preliminar
LimitaçõesDemorado, caro, poucas estacas testadasRequer interpretação técnica especializada; precisa de energia adequada para mobilizar resistênciaNão fornece capacidade de carga, apenas integridadePouca precisão, pode superestimar ou subestimar capacidade

Quando Utilizar Cada Método na Prática

A escolha entre prova de carga estática, ensaio dinâmico (PDA) ou simplesmente confiar nas estimativas de projeto depende do porte da obra, do nível de confiabilidade desejado e dos recursos disponíveis. Em projetos de grande importância ou com elevado número de estacas (por exemplo, fundações de pontes, edifícios altos ou estruturas estratégicas), a Norma e a boa prática recomendam a realização de provas de carga físicas. Nestes casos, provas de carga estáticas são indicadas como referência de desempenho, pois oferecem a confirmação direta da capacidade e do comportamento da fundação sob carregamento de longa duração.

Imagem de um PDA sendo utilizado em campo
Imagem de um PDA sendo realizado em campo

o ensaio PDA é amplamente utilizado como complemento ou mesmo substituto parcial do estático em obras usuais, dado que permite controlar a execução de um percentual maior de estacas de forma rápida. Por exemplo, pode-se programar provas estáticas em 1% das estacas e ensaios dinâmicos em outras 4% (dando uma proporção de 5 dinâmicos para cada estático), conforme diretrizes normativas para certas faixas de quantidade de estacas.

Em obras menores (com poucas estacas) ou quando os valores de carregamento estão bem abaixo dos limites normativos, pode-se optar apenas pelo PDA para verificar a capacidade, já que a ABNT admite sua utilização integral em substituição à estática nesses casos, desde que respeitados os critérios de quantidade e tensão de trabalho das estacas. Por outro lado, em projetos com centenas de estacas (muito acima dos limites de exigibilidade), pelo menos uma prova de carga estática deva ser executada para atestar a capacidade com total confiança.

Em resumo, utiliza-se o SPT (métodos de cálculo) na fase de projeto para estimativa inicial; aplica-se o PDA extensivamente durante a obra para controle de qualidade e confirmação individual de estacas, e realiza-se a prova estática em casos selecionados para calibração e validação final. Assim, combinando os três enfoques, o engenheiro de fundações obtém projetos mais seguros, otimizados e economicamente eficientes, atendendo às exigências normativas e garantindo o desempenho esperado das fundações.

Normas Técnicas Brasileiras Aplicáveis ao Ensaio PDA

No Brasil, os projetos e a execução de fundações profundas são regulamentados pela ABNT, em especial pela NBR 6122 – Projeto e Execução de Fundações (versão 2010, revisada em 2019 e 2022). Essa norma estabelece critérios de projeto e também requisitos de prova de carga para garantia de desempenho. Em sua versão vigente, a NBR 6122 determina, por exemplo, que obras com grande número de estacas devem ter provas de carga de comprovação executadas durante a cravação. Especificamente, há limites de quantidade e tensão a partir dos quais é obrigatória a realização de provas de carga estáticas de desempenho, em quantidade equivalente a cerca de 1% das estacas executadas.

Em obras de porte intermediário (número de estacas moderado), a norma permite a substituição parcial das provas estáticas por ensaios dinâmicos: podem ser realizadas aproximadamente cinco provas dinâmicas (PDA) para cada prova estática omitida, dentro de limites definidos, de modo a se obter um controle eficiente sem comprometer a segurança. Contudo, em situações de projetos muito grandes (excedendo cerca de duas vezes o número de estacas limite da tabela normativa), pelo menos uma prova de carga estática torna-se obrigatória e insubstituível. Em quaisquer dos casos, a NBR 6122 reconhece explicitamente o ensaio de carregamento dinâmico como método de comprovação, equiparado à prova estática para fins de exigibilidade mínima quando se alcançam os critérios mencionados.

Além da NBR 6122, há normas específicas que tratam dos ensaios em si. A NBR 13208 – Estacas: Ensaio de Carregamento Dinâmico estabelece o método de ensaio PDA, padronizando procedimentos como instrumentação, condições do martelo, medição dos sinais e critérios de apresentação dos resultados. Essa norma, publicada inicialmente em 1994 e revisada em 2007, orienta os profissionais na execução adequada do ensaio dinâmico, garantindo confiabilidade e reprodutibilidade nos resultados. De modo análogo, a NBR 12131 – Estacas: Prova de Carga Estática (de 2006, sucedida recentemente pela NBR 16903:2020) especifica o método para as provas estáticas, detalhando requisitos de montagem, tempo de carregamento, critérios de ruptura e interpretação da curva carga versus deslocamento. Ambas as normas de ensaio devem ser seguidas rigorosamente para assegurar que os resultados obtidos representem fielmente o desempenho da fundação, possibilitando comparação com valores de projeto.

Por fim, vale citar que o planejamento das fundações também se apoia em normas de investigação geotécnica, como a NBR 6484 – Sondagens de Simples Reconhecimento com SPT, pois os resultados de SPT integram o processo de estimativa semi-empírica de capacidade de estacas. Em conjunto, esse corpo normativo fornece um arcabouço completo: desde a etapa de projeto (previsão da capacidade pelo solo), passando pela execução e controle (ensaios dinâmicos e estáticos para verificação), até a aceitação final das fundações com base em critérios normatizados de desempenho. O ensaio PDA, inserido nesse contexto normativo, é uma ferramenta de verificação ágil que complementa o processo de controle de qualidade das fundações, conferindo rapidez sem abrir mão da segurança, desde que empregado conforme as diretrizes técnicas estabelecidas.

Estudo Comparativo (Revista DELOS, 2025) – PDA vs. Métodos Semi-empíricos

Publicada em 2025 na Revista DELOS de desenvolvimento local sustentável, uma pesquisa conduzida por Ozawa et al. trouxe uma análise comparativa quantitativa entre resultados de provas de carga dinâmicas (PDA) e cálculos de capacidade de estacas via métodos semi-empíricos clássicos (Décourt-Quaresma e Aoki-Velloso). Esse estudo concentrou-se em estacas pré-moldadas de concreto cravadas na região portuária de Santos (SP), com dados reais de 105 estacas e ensaios dinâmicos executados em quatro delas.

Os autores compilaram as estimativas de carga obtidas pelas fórmulas semi-empíricas a partir dos perfis de SPT do solo local e compararam-nas com as capacidades medidas pelo PDA. Os resultados indicaram que, em média, o método Décourt-Quaresma aproxima-se muito dos valores medidos (diferença média ~0,8% inferior ao PDA), enquanto o método Aoki-Velloso fornece valores cerca de 15% mais baixos (conservadores). No entanto, foi observado que o método Décourt, embora sem viés significativo em média, pode ocasionalmente superestimar a capacidade da estaca em mais de 10%. Os pesquisadores ressaltam, portanto, a necessidade de empregar fatores de segurança adequados ao usar tais métodos de cálculo, especialmente considerando que o Aoki-Velloso tende a ser mais seguro (conservador) enquanto o Décourt-Quaresma pode superestimar em alguns casos.

A conclusão do artigo reforça o valor dos ensaios dinâmicos como forma de se obter resultados mais precisos e confiáveis sobre a capacidade e integridade das estacas em campo, conforme previsto em projeto. Em suma, este trabalho recente endossa a prática de comparar e calibrar as estimativas teóricas de capacidade de carga com ensaios de prova de carga (dinâmicos ou estáticos), visando projetos mais seguros e econômicos.

GRL Engineers / Pile Dynamics – Capacidade Estática via Ensaio Dinâmico

A GRL Engineers, em conjunto com a Pile Dynamics Inc. (PDI), são reconhecidas internacionalmente pelo desenvolvimento e difusão dos métodos de ensaio dinâmico de estacas. Documentos técnicos dessas organizações esclarecem como o PDA aliado a análises avançadas consegue simular o comportamento estático da estaca. Conforme material divulgado pela PDI/GRL, o procedimento de Dynamic Load Testing (ensaio dinâmico de alta deformação) envolve combinar as medições de campo do PDA com a análise de onda de tensão via software CAPWAP, permitindo predizer o comportamento estático da fundação. Essa técnica fornece uma estimativa da capacidade de carga estática mobilizada, discriminando a contribuição de atrito lateral e ponta, bem como parâmetros dinâmicos do solo (como amortecimento e quake).

Notavelmente, a análise por signal matching produz gráficos de carga versus deslocamento simulados, equivalentes à curva que seria obtida em uma prova de carga estática convencional. Tais resultados reforçam a confiabilidade do ensaio dinâmico quando executado corretamente – de acordo com a GRL, a utilização combinada de PDA e CAPWAP em projetos de fundação profunda tem se mostrado uma abordagem eficaz para avaliar a capacidade portante e a integridade de estacas de forma rápida e econômica, muitas vezes servindo para otimizar o comprimento de estacas e reduzir custos de obra sem comprometer a segurança. Um caso ilustrativo apresentado pelos engenheiros da GRL (Phetteplace et al., 2019) descreveu um programa de provas em que a correlação entre ensaios estáticos e dinâmicos permitiu encurtar as estacas em 9–10 metros em média, gerando grande economia, ao mesmo tempo em que validou os critérios de projeto adotados.

Em resumo, as publicações técnicas da GRL/PDI corroboram que o ensaio PDA, quando bem aplicado, é uma ferramenta robusta – desenvolvida pelos próprios criadores do método – capaz de fornecer resultados equivalentes aos estáticos para fins de verificação de capacidade, desde que interpretados dentro de um rigor técnico apropriado.

Aplicação do PDA na Prática da Engenharia Civil

Procedimento Típico de Execução do Ensaio PDA

Na prática de campo, a execução de uma prova de carga dinâmica com PDA segue uma sequência de passos bem definidos. Primeiramente, a estaca a ser ensaiada deve estar acessível e preparada: no caso de estacas já cravadas ou moldadas previamente, realiza-se o corte ou regularização do topo e, se necessário, instala-se um prolongador metálico alinhado ao fuste para facilitar a aplicação dos golpes (isso é comum em estacas escavadas, garantindo geometria adequada e evitando danos na cabeça da estaca). Em seguida, procede-se à instrumentação da estaca – colando ou fixando com parafusos dois transdutores de deformação (strain gauges) diametralmente opostos e dois acelerômetros próximos ao topo. Esses sensores são conectados por cabos ao equipamento Pile Driving Analyzer (PDA), que realizará a aquisição e processamento dos sinais.

Com tudo pronto, posiciona-se o sistema de impacto: geralmente um martelo de queda guiado (drop hammer) ou o martelo do bate-estacas, com massa e altura de queda conhecidas, capaz de gerar energia suficiente. No momento do ensaio, aplica-se uma sequência de golpes controlados no topo da estaca (tipicamente de 3 a 10 golpes, aumentando progressivamente a energia, ou até mobilizar a capacidade requerida). A cada golpe, o PDA registra as formas de onda de força e velocidade no topo da estaca em alta frequência. Imediatamente após cada impacto, o equipamento exibe valores estimados de capacidade de carga (Rápida de Caso), energia transmitida, eficiência do golpe, máximos de tensão compressiva e tração, entre outros parâmetros. Essa etapa de campo costuma durar poucos minutos por estaca ensaiada, tornando o processo ágil.

Equipamentos, Equipe e Mobilização Necessária

Para realizar um ensaio PDA, é necessária uma infraestrutura móvel especializada. O principal equipamento é o computador PDA com seus acessórios (cabo de aquisição, módulos de condicionamento de sinal, etc.) e o software associado (que pode incluir programas como CAPWAP para análise pós ensaio). Os sensores (strain gauges e acelerômetros) são fornecidos em kits pelo fabricante e devem ser instalados cuidadosamente na estaca. Além disso, o ensaio requer um sistema de impacto: em obras onde as estacas são cravadas por bate-estacas, o próprio martelo vibratório ou de queda pode ser utilizado.

Em outros casos, utiliza-se um pilão de queda acoplado a um guindaste ou grua, ou até um equipamento específico de drop weight portátil. É fundamental dispor de elementos de amortecimento e proteção no topo da estaca durante os golpes, como colchões de madeira dura ou material sintético, para evitar danificar a cabeça da estaca e adequar a forma da onda de impacto. A equipe típica envolve pelo menos um engenheiro ou técnico especializado em dinâmica de estacas (responsável pela instrumentação, operação do PDA e interpretação inicial) e pessoal de apoio para manusear o peso/martelo e auxiliar na logística.

A mobilização também inclui providenciar acesso ao topo das estacas (andaimes, plataformas elevatórias ou uso da torre do bate-estacas) e garantir a segurança da área, isolando o local dos golpes. Em termos de preparo temporal, é recomendado que estacas de concreto moldadas in loco curem adequadamente antes do ensaio dinâmico (por exemplo, no mínimo 7 a 14 dias, dependendo da norma e do tipo de concreto) para evitar danos estruturais – esse tempo é menor do que o exigido para provas estáticas em muitos casos, mas não pode ser negligenciado. No geral, com os equipamentos e equipe certos, um conjunto de ensaios PDA pode ser realizado de forma itinerante pelo canteiro, cobrindo diversas estacas em sequência, o que propicia um controle de qualidade em larga escala sem grandes interrupções na obra.

Conclusão

Os ensaios de prova de carga – estáticos ou dinâmicos – são aliados indispensáveis do engenheiro de fundações na garantia de desempenho das estacas profundas. Enquanto a prova estática fornece o padrão-ouro de avaliação, o ensaio PDA destaca-se como uma alternativa moderna, validada e normatizada, que entrega resultados confiáveis com maior agilidade. O uso combinado de métodos de projeto (semi-empíricos) e ensaios de campo, conforme as melhores práticas, permite otimizar as soluções de fundação mantendo a segurança em primeiro lugar. Nesse contexto, a Guriga Engenharia se posiciona como referência técnica no emprego do PDA no estado do Rio de Janeiro, acumulando experiência em ensaios dinâmicos e estáticos para verificação de fundações.

Nossa equipe conta com profissionais altamente capacitados – a exemplo de Henrique Apolinário, Léo Mendes, entre outros – que dominam as ferramentas e normas relativas às provas de carga. Colocamos à disposição dos clientes esse know-how para assegurar que cada fundação projetada e executada por nós atenda aos mais rigorosos critérios de segurança e desempenho, reafirmando o compromisso da Guriga Engenharia com a excelência técnica em geotecnia e fundações profundas

Referências

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  • Comparação Curvas Carga × Deslocamento – PCE × PDA. Trabalho apresentado no COBRAMSEG-2022. Proceedings COBRAMSEG.
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  • ASTM D4945-12. Standard Test Method for High-Strain Dynamic Testing of Deep Foundations. PDF ASTM D4945-12.
  • Dynamic Load Testing (PDA Test) of Drilled Shafts. Fugro / Loadtest. Loadtest PDF.

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